Produzir

Eu fui uma das primeiras pessoas da turma a deletar o Orkut. Primeiro, saí de todas as comunidades, apaguei todas as fotos, fui diminuindo o uso até um belo dia simplesmente deletar o perfil. Não lembro muito bem o motivo, talvez estivesse passando tempo demais por lá, ou o saco encheu. Depois, o mesmo aconteceu com o Facebook. Usei ativamente até sair de um emprego e não ver mais sentido em passar horas do meu dia rolando aquela timeline. Acho engraçado porque as minhas memórias do Orkut são até divertidas, gostava de entrar em comunidades de piadas, todo mundo basicamente estava nos mesmos espaços virtuais. Já do Facebook eu não tenho boas memórias, sempre achei um ambiente meio tóxico, também usavam muito para falar de trabalho, não era a mesma coisa da primeira rede social.

Perambulei bastante por diversas redes sociais desde esses tempos. Meu antigo twitter ainda está ocupado, embora sem postar desde 2023, mas só para ninguém tomar meu username. Estou longe do instagram e do bluesky desde os primeiros dias de 2025, mais ou menos uns quatro meses sem pisar nessas terras. E isso nem foi o maior tempo que passei longe das redes, tive uns anos de hiato virtual em 2014 ou 2015, enfim, não importa ter precisão nessas datas agora.

Acho que chegou a minha hora de dizer não para as redes sociais por um período mais longo. Esse mini percurso histórico que fiz nos dois parágrafos acima foi só para contextualizar esse conflito pessoal e social moderno. Eu não preciso e nem quero produzir mais nada além do necessário. Eu já vivo constantemente produzindo aulas, provas, postagens em fóruns virtuais de disciplinas, e-mails, mensagens instantâneas, artigos científicos, projetos de tese, só para mencionar algumas coisas. Eu não preciso e nem quero produzir postagens em redes, fotos, vídeos bobos que vão durar 3 segundos e depois sumir da mente das pessoas.

Minha alma pede qualidade de relacionamentos, profundidade. Infelizmente, a maioria das relações pessoais que tenho tido são rasas. Uma pessoa que senta na minha mesa no café por 3 minutos, reclama do cansaço, concordo, e depois segue a vida dela, apressada. Uma conversa de intervalo sobre um aluno engraçado e um projetor enguiçado. Ninguém quer falar sobre um filme, um livro, uma viagem, uma forma diferente de viver. Estamos apenas produzindo conversas.

Minha alma pede para dançar, celebrar, vestir uma roupa bonita e caminhar por aí num parque, numa praça. Porém, só consigo fazer isso em casa, dentro da minha cerca viva e quando estou em casa. A maioria das minhas amizades está longe. Estamos cada um produzindo suas coisas todos os dias distantes. Estamos a um "vamos marcar?" de distância.

Não sei muito bem como terminar esse texto em que as palavras parecem meio jogadas, meus desejos misturados à realidade nas frases, nas entrelinhas. Então vou terminar como uma música que toca sua última nota-

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