Fobia social

A primeira vez em que uma psicóloga me disse que eu tinha fobia social foi há mais ou menos 15 anos. Eu já tinha enfrentado os horrores da adolescência basicamente escondida na biblioteca no recreio e interagindo apenas com uns cinco amigos e colegas com quem eu me sentia mais segura. Meus pais começaram a se preocupar com minha falta de socialização e com minhas boas notas porque eu só fazia estudar (sim, juro). Para os dois, era um defeito eu ser tímida. Entretanto, ao mesmo tempo em que me encorajavam a socializar mais, também me repreendiam, dizendo "mas por que você falou isso?", "você vai sair vestida desse jeito?". Não os culpo. A educação freestyle dos baby boomers era assim mesmo e a grande maioria dos millennials deve ter sequelas desse tipo. Uma coisa boa da internet foi trazer esses temas para debate e ajuda um pouco saber que não estou sozinha.

Mesmo com acompanhamento psicológico, recentemente tive um episódio de fobia mais extremo. Recebi um convite para um evento social onde não estaria com nenhuma pessoa com quem me sinto segura e percebi os sintomas da fobia ressurgindo. Um sofrimento por antecipação, tentativas de prever meus passos, olhar obsessivamente fotos e mapas do evento para ver onde poderia sentar ou me esconder, investigar quem iria (obviamente sem perguntar a ninguém), escrever mensagens na minha mente que precisaria enviar para ter acesso ao evento, enfim. Fui o caminho todo para o evento calada, a respiração faltando, mas recebendo apoio do meu companheiro que é essencial nessas crises. Chegando lá, é claro, deu tudo certo e eu consegui me virar bem. No meu caso, consigo ter uns temas de conversas para poder não ficar muito calada e me ajuda ter uma base, um lugar para sentar e pegar o celular ou comer algo. Após o evento, ainda fiquei uns dias remoendo interações que "deram errado", mas tentando desviar o pensamento disso sempre que possível.

O isolamento social faz parte da minha vida. Apesar de ter momentos mais corajosos, eu preciso de uma base segura. Pessoas que não vão me empurrar dizendo "que besteira, vai lá" (aliás, isso é a pior coisa para quem tem qualquer tipo de fobia, imagina você jogando um sapo em cima de alguém com pavor a sapo). Eu jamais inicio conversas se puder evitar, mas gosto quando as pessoas me procuram, o que é bastante raro. Nunca consigo desenvolver bem conversas do tipo "e aí, como está seu filho?", o small talk é um horror porque eu não entendo a função de perguntar só por perguntar, sem um interesse genuíno em estabelecer um vínculo. A pior coisa para mim é o ghosting, a pessoa sumir vai invariavelmente disparar o gatilho de um "o que foi que eu fiz?" eterno, mesmo sabendo que às vezes o problema foi dela.

Estou falando sobre isso porque passei quase um mês basicamente dentro de casa, socializando com a família e os cachorros. Não consegui convidar ou me colocar disponível para encontrar amigas. Não consegui nem interagir no grupo de webamigos no telegram. Não consegui sair de casa sozinha. Desativei todas as redes sociais. Me isolei de uma forma tão intensa como não fazia há muito tempo. 

A volta ao trabalho daqui a pouco vai me dar a ilusão da socialização, mas sempre superficial. O intervalo na sala dos professores só permite alguns minutos de conversa, insuficientes para criar vínculos mais duradouros. Com os alunos, há o distanciamento necessário. Além disso, essas coisas normalmente drenam minha energia de modo a tornar difícil qualquer socialização por lazer.

Em algumas fases eu fico mais em paz com isso. Até porque, já sabemos (como meus pais não sabiam) que não há problema algum em ser introspectiva. Porém, às vezes me sinto meio escondida do mundo e isso me traz algum sofrimento. De certa forma estou me revelando aqui nesse post para quem conseguir ler até o final. Espero conseguir sair dessa fase logo e talvez esse texto já seja uma tentativa.

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2 Comentários

  1. finalzinho de 2023 eu tive uma ocorrência de fobia social paralisante que me irritou tão profundamente que eu jurei que aquilo nunca mais ia acontecer. fiz um pouco de terapia mas a doutora era bem fraquinha, porém descobrir o TEA foi o que me mudou mais. eu ainda tô no processo mas eu me sinto como se ainda tivesse me privando ou me escondendo das coisas. é ruim mesmo, espero que você saia dessa logo logo

    te amo <3

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  2. passando nos comentários para te enviar um abraço virtual.

    sou uma pessoa "introvertida com habilidades sociais", dizem algumas amigas, mas tive uma quase fobia social após o isolamento da pandemia. apesar (ou talvez por causa?) da infância solitária, me considero uma pessoa que necessita de outras na vida, que precisa ser rede (o que resultou em estar rodeada por vários ótimos amigos), mas o momento pandêmico me faz levantar na terapia o quanto conversar com outras pessoas meio que sempre me deixou intimidada... não sei como se sente, então deixo aqui meu relato como forma de tentar me aproximar do que você narra no (corajoso) texto.

    meu contato cê já sabe, amiga, e eu acredito que conseguirá encontrar um equilíbrio.

    abracinhos! ♥️

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