"Normalmente o segundo semestre é mais tranquilo" me disse alguém uma vez. Não está sendo o caso em 2024. Eu estou totalmente overwhelmed (aliás, qual seria o equivalente desta palavra em português? Não sei e estou com preguiça de pensar). Não consegui viver o luto pela perda da minha avó. Eu queria ter chorado mais, queria ter lembrado mais dela, ter pego os álbuns de fotos e visto memórias dos nossos momentos juntas. Queria ter conseguido escrever sobre ela, mas estou aqui numa sala dos professores depois de um dia intenso de mais de doze horas de trabalho com uma dor aguda atravessando meu olho direito de vez em quando, um outro professor digitando do meu lado e um choro preso de cansaço e tantos outros sentimentos.

Também não consegui aproveitar os momentos felizes que tive. A sensação é de que a alegria durou uns quinze minutos e logo precisei correr para uma sala de aula, corrigir cinquenta e cinco trabalhos e responder pela milésima vez a diferença entre os verbos "ser" e "estar" em língua portuguesa. Estou pensando em três línguas diferentes o tempo todo e tenho certeza de que perco uns vinte mil neurônios por dia pensando, respondendo, pensando, corrigindo, sendo uma pessoa que precisa pensar o tempo todo.

No meio disso tudo ainda tive uma viagem quase completamente sozinha e tive que lidar com pessoas que não gostam de pessoas que também não sabem quem são outras pessoas em outra realidade. E, se alguém que está lendo isso não conseguiu acompanhar esse processo mental, é assim mesmo, acho que nem eu consigo. Os dedinhos digitando vinte mil caracteres por segundo lembrando dos momentos e de coisas que eu nem posso dizer aqui.

Aí minha mente volta e volta e lembro que minha avó teria gostado de saber que apresentei dois trabalhos sozinha num congresso, que eu fui sozinha e fiz as coisas sozinha. Ela gostava disso e era a pessoa que mais encorajava minha independência e meu sucesso acadêmico. Ela, que também estudou Letras e foi extremamente bem-sucedida (eu não sou), mas desistiu de uma bolsa de estudos na Alemanha por conta do marido. Eu (e minha mãe) jamais deixei de fazer minhas coisinhas por homem nenhum por causa dela, que basicamente só conseguiu viver por conta própria depois que meu avô faleceu.

Então, não se deixe enganar pelas fotos felizes deste post porque eu só estive bonita e feliz por breves momentos. Tenho vivo como uma ameba com dois neurônios funcionando e guardando todos os sentimentos bons e ruins para depois.

1 Comentários

  1. Chegando aqui e enviando um abraço longo. Logo chega o fim do ano e pelo menos uma pausa pra respirar nesse ritmo caótico de ter que levar o trabalho e a vida pessoal. ❤️

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