Foto do livro "Escrever é muito perigoso" de Olga Tokarczuk, plantas ao fundo

Gosto de livros que me fazem pensar - diria até, filosofar - sobre as coisas. Eu sou vegetariana há muitos anos e nunca gostei de carne, desde criança. Havia algo na textura da carne animal que me dava algum tipo de asco e posso dizer com tranquilidade que nunca senti nenhum tipo de prazer culinário em comer essas coisas. Não precisei ver documentários mostrando o sofrimento animal para saber em algum lugar dentro de mim que não me parecia certo mastigar outros seres vivos. 

Dito isso, num dos capítulos do livro "Escrever é muito perigoso", Olga Tokarczuk (uma escritora polonesa que está entre minhas autoras preferidas) fala sobre o ato de comer animais e como o veganismo ou vegetarianismo é algo ainda visto como "excêntrico" até hoje. Ela começa questionando se os animais têm alma, ou algum tipo de consciência, mas a conclusão é a de que eles sofrem. Os estudos sobre comportamento animal atuais indicam que qualquer animal tem algum grau de sofrimento e a diferença para os humanos é que, para eles, não é possível racionalizar o sofrimento, ou seja, eles não sabem o motivo de estarem sofrendo e não possuem mecanismos psíquicos para aliviá-lo. 

Na minha experiência, quando digo às outras pessoas que sou vegetariana, a tendência é sempre perguntarem "por que?" e eu tenho que justificar isso sempre. É algo cansativo e eu não consigo responder de forma que satisfaça a curiosidade de cada um. As perguntas também incluem as seguintes variações:
- Mas não é difícil viver sem carne?
- E sua família?
- E você come ovo e queijo?
- Quando você vai a restaurantes, como é?
- Ah, mas EU não conseguiria, gosto muito de carne...
- Queria ser assim, mas não consigo...

"Quem uma vez enxergou todo o horror daquilo que os seres humanos fazem aos animais já não consegue voltar ao sossego" (p. 49) foi uma das frases escritas pela autora nesse capítulo e talvez eu comece a usá-la como justificativa para as pessoas. Matar um outro ser vivo é um horror pra mim e ainda mais matá-lo e ser capaz de mastigar sua carne. Mas eu gostaria de enfatizar aqui o PRA MIM, ou seja, você que está lendo e quer continuar comendo sua carne em paz, continue fazendo isso, meu objetivo é apenas refletir sobre minhas escolhas.

Eu só queria que os carnívoros, quando eu dissesse que sou vegetariana, não me tratassem como uma excêntrica ou alienígena. Isso não é excentricidade, é uma escolha proveniente da minha forma de enxergar os animais e a natureza. E isso faz parte da minha visão de que eu não sou um ser fora da natureza, eu estou dentro de um ecossistema, intervindo nele todos os dias através das minhas atitudes. E eu quero agredir o mínimo possível tudo o que faz parte dele e não quer me destruir. Inclusive, o que eu puder fazer para preservá-lo e impedir que os outros o destruam, eu farei. Esse texto também tem essa função. Recomendo fortemente todas as obras de Olga Tokarczuk, começando por "Sob os ossos dos mortos" que é uma obra-prima maravilhosa.

_____________
Referência: TOKARCZUK, Olga. Escrever é muito perigoso: ensaios e conferências. Tradução: Gabriel Borowski. São Paulo: Todavia, 2023.

2 Comentários

  1. Infelizmente falta muita empatia e respeito por ai. Todo mundo querendo impor sua realidade e questionando a realidade do outro. Apesar de não ser vegetariana, te parabenizo pela sua atitude e acho que cada um deve viver de acordo com o que acredita e ponto.
    Bj e fk c Deus
    Nana
    https://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pelo texto e eu respeito suas escolhas. Foi um esclarecimento sem tamanho essa sua reflexão. Não podemos julgar ninguém, para também não sermos julgados.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

    ResponderExcluir

Leave a comment