Elevador
Entrei no elevador junto com mais alguns desconhecidos e você estava lá. Olhou para mim e fingiu que não me conhecia. Tudo bem, havia outras pessoas com você, além dos estranhos. Tentei me concentrar nas costas do homem largo que ficou na minha frente e desviar meu pensamento do fato de que provavelmente sua esposa estava ao seu lado e ela não me conhecia. O elevador chegou, descemos num grande salão branco e nenhuma das pessoas fazia ideia do que estávamos fazendo naquele lugar. Fui uma das pessoas levadas a se deitar no chão em esteiras. Você, sua esposa e o resto da sua família foram para outro lugar. Passei um tempo deitada ao lado de um homem, mas eu não conseguia prestar atenção ao que ele me dizia, só pensava em você ali perto fingindo que não me conhecia. Foi muito estranho porque eu tinha idealizado tudo para quando finalmente nos encontrássemos e nada saiu como esperado. Você precisou se conter e eu fiz um esforço inimaginável para não cumprimentá-lo. Afinal, eu já tinha sido louca outras vezes e queria lhe mostrar que mudei. Não sei quanto tempo fiquei deitada e, percebendo novamente as coisas à minha volta, vi que agora estava num restaurante. Subi algumas escadas e fui levada por um garçom a uma mesa. O lugar era iluminado por luzes amarelas fracas e eu forcei minha vista para ver se você estava numa das mesas. Trocamos olhares. E foi isso, só. De repente, me dei conta de que nunca tinha visto seus dentes. Eu não sei como são seus dentes, mas você já tinha visto os meus. Isso me pareceu engraçado e me fez sorrir com o canto da boca. Coloquei as coisas em perspectiva na minha mente, tomei um café enquanto lia um livro e me levantei para ir embora, já tinha esquecido de que você ainda estava lá. Ao pegar minhas coisas distraída, me virei de repente e você estava em pé ao meu lado. Nos olhamos e isso pareceu uma eternidade. Sem saber o que fazer, perdi toda a perspectiva da realidade e fui embora, batendo no seu braço e sem olhar pra trás. Senti seu olhar nas minhas costas, confuso, porque você tinha certeza de que eu ficaria, lhe abraçaria, seria louca, mas esta não era mais eu. Agora eu era a pessoa que ia embora e eu fui embora porque eu nunca vi seus dentes.
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Eu sonhei (eu sonho muito e lembro de quase tudo o que sonho) com essas coisas mais ou menos assim e o texto ficou martelando na minha cabeça por alguns dias e resolvi escrevê-lo. Às vezes eu gosto de me aventurar e escrever mini contos sem sentido, mesmo assim ainda sinto que faltam imagens mais metafóricas e que sou crua e literal demais, mas enfim.
5 Comentários
Uma estória fantástica e bem fora do comum. Obrigado por compartilhar.
ResponderExcluirBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
Obrigada, Emerson! :)
Excluirjá notou como sonhos sempre começam na metade e nunca sabemos o começo?
ResponderExcluirVerdade, a gente sempre começa em algum lugar, mas não sabemos como fomos parar lá hahaha
ExcluirAchei incrível como a personagem percebeu que mudou e de certa forma se libertou né?! Você poderia escrever um livro de contos, eu ia adorar ler!!
ResponderExcluirBeijo ♥
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