Desonline

Eu não quero mais ficar online. Tudo o que eu faço é online. Queria poder ficar desonline. Analógica. Ter tempo pra olhar pro tempo.

Experimentar as coisas sem precisar tirar uma foto antes.
Ler um livro sem precisar registrar num site quantas páginas estou lendo por dia.
Comprar coisas nas lojas.
Me corresponder por cartas.
Usar telefone fixo.
Mandar um telegrama pra dar uma notícia.
Não ficar sabendo de nenhuma fofoca.
Não receber mensagens escritas que vão mudar o rumo das coisas.
Conhecer pessoas ao vivo.
Eu não quero saber da vida de semi-conhecidos que nunca vou conhecer.
Quero desver alguns vídeos.
Quero que os estudantes voltem a usar cadernos, a anotar as coisas, a escrever textos sem usar corretor.
Quero tirar da minha mente a quantidade de informações desnecessárias que vão pra lá a cada micropost lido, a cada vídeo visto, a cada imagem visualizada.
Quero fugir do algoritmo, que ele nem saiba da minha existência.
Que eu não seja mais um número, um monte de dados nos gráficos do réptil lá dono da internet toda.
Quero saber do que eu realmente gosto porque às vezes eu acho que só gosto da coisas porque fui manipulada.
Participar de um protesto nas ruas, sem hashtags e indignações só pra constar.
Não quero mais postar nada.
Quem quiser saber sobre minha vida, vai ter que vir na minha casa me visitar.

Vou parar por aqui porque minha mente vai se revoltando cada vez mais com a tecnologia a medida em que vou escrevendo. Fico pensando em martelar todos os modems em pedacinhos. Pegar um taco de baseball e atacar todos os computadores que vir pela frente, incluindo o que estou usando para escrever este post. Arremessar todos os celulares janela abaixo, ou chutar cada um jogando futvôlei. Sei lá.