Viver dias, meses, anos históricos não é fácil. Estamos descobrindo isso agora, juntos. Cada um está vivendo esta pandemia de formas diferentes, mas parece que temos sentimentos iguais: indignação, luto, tristeza, impotência, saudade, preguiça, e a indagação permanente de "até quando?".

Há um ano, eu estava recebendo a notícia da quarentena aqui em Pernambuco por conta do registro dos primeiros casos. Estava na escola, junto com os outros professores e poucos alunos, pois os pais já estavam apavorados e muitos não queriam mais mandar os filhos. Nos reunimos na sala dos professores, sem saber o que dizer nem o que fazer. Um olhando para o outro, todos pensando "e se alguém aqui já estiver infectado e infectar todo mundo?". A diretora - percebam - tinha acabado de voltar de uma viagem à Itália, que contava milhares de casos e mortos e foi obrigada pelos pais da escola a ficar quinze dias em casa. Logo, ela não se reuniu conosco e queria marcar uma reunião presencial para dali a dois dias. Um professor, corajoso, disse que não compareceria. Eu também disse que não, e disse isso olhando bem nos olhos do coordenador, para ele entender que eu não estava brincando. Os outros tomaram coragem e repetiram em coro que não iriam, sugerindo alternativas. Fomos todos para casa. Como eu fui desligada desta escola no final do ano, nunca mais os vi presencialmente.

Na outra escola, os planos eram opostos. Propuseram união e troca. No último dia antes da quarentena, passamos várias horas ensinando uns aos outros o que sabíamos sobre Google Classroom e outras ferramentas, além de fazer um calendário para dividir a preparação de aulas. Ao longo do ano, tivemos treinamento, reuniões e apoio da coordenação. Estou lá até hoje, pedi para ficar com a maioria das turmas online neste ano de retorno ao presencial, se possível e eles me atenderam. Já substituí vários professores que estavam doentes, pois quiseram (ou tiveram que) dar aula presencial.

Vi minha família em pouquíssimas ocasiões. Antes de março de 2020, eu tinha ido na casa da minha mãe e passado uma tarde com eles. Foi a última vez que nos reunimos sem máscara. Os vi muito pouco, mas sempre liguei pelo FaceTime várias vezes na semana para mostrar os cachorros e tentar fazê-los mudar de ideia sobre o nefasto presidente e as coisas horrendas que ele prega (infelizmente sem sucesso até hoje). Meu irmão e a noiva levaram o vírus para casa e eu lutei - praticamente gritando pelo celular - para que eles fossem se isolar na casa de praia. Depois de um dia eles foram e levaram minhas avós e não pegaram o vírus. Meu irmão tomou cloroquina e eu só descobri tempos depois. Não sei até quando eles vão continuar defendendo aquele genocida.

De vez em quando sinto saudade do início da pandemia quando ninguém estava entendendo nada, quando ficávamos 24 horas com a globonews ligada para tentar ligar os pontos das notícias e quando ainda tínhamos um ministro da saúde com o mínimo de noção. É uma saudade estranha, porque todo mundo achava que isso tudo não iria durar muito tempo, mas estamos aqui, mais de um ano depois, centenas de milhares de mortos no país, indignados, porém letárgicos.

Minha única certeza é de que estou fazendo minha parte - a única coisa que posso controlar. Não saio de casa, uso minha máscara e até tenho distribuído máscaras PFF2 para minha família e espalhado a informação para meus colegas de trabalho. Meus sentimentos ainda são confusos, tristes e desesperançosos, mas tenho tranquilidade para passar quanto tempo for preciso em casa e desejo todos os dias força para todos os que continuam lutando.

1 Comentários

  1. Realmente temos vivido dias terríveis. Não sei quando tudo isso irá acabar. E parece que esse ano as coisas pioraram. Só hoje aqui no Distrito Federal foram 117 mortos por Covid-19. Ontem foram 94.

    Boa semana!

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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