Tomando café e escrevendo
Ben Aaronson - Woman by a window (2008) |
Uma das coisas que mais gostava antes da pandemia era tomar um café e comer um lanche - feito a moça desta pintura. Se eu tomasse a vacina hoje, correria para o café mais próximo e passaria horas, faria as três refeições lá, sozinha ou acompanhada, sentindo o cheiro de lanches no ar.
Estou completamente travada de ansiedade, mas me disseram que, se isso acontecer, para eu continuar escrevendo, mesmo que fosse sobre o fato de estar travada. Eu pensava que esta pandemia me levaria a redescobrir minha criatividade, pois sempre tempos difíceis me levaram a isto, mas desta vez não foi bem assim. Talvez eu tenha criado uma expectativa - e isso nunca é bom pra mim - ou tenha mesmo deixado pra depois. Depois da defesa da dissertação, depois do início das aulas, quando começa o mês... aí eu começaria a escrever e desenhar, coisas que gosto de fazer. Entretanto, estou até hoje travada.
Não sei se posso contar como "desenvolver a criatividade" com o meu caderno onde escrevo bobagens diárias, do tipo "Hoje acordei cedo e dei cinquenta aulas, numa delas, uma mãe de aluno passou de camisola atrás da criança e eu fiquei constrangida...". Talvez um pouco, mas acho tão bobo que nem vale a pena reproduzir nada aqui, são só coisas de dias que eu gostaria de lembrar algum dia. Normalmente num dia de arrumação da casa quando eu encontro a caixa cheia de caderno antigo e vou lendo algumas páginas para decidir se jogo fora ou não.
Retomar a escrita de forma mais criativa tem se mostrado difícil especialmente porque perdi o contato com a leitura como lazer. Passei tanto tempo lendo textos acadêmicos e outros estudos pessoais, que nunca mais peguei um romance pra ler rápido ou devagar. Comecei dois livros este ano, mas deixei pra lá.
Também a vida não tem sido fácil. Tive que me adaptar ao modelo EAD de aulas, lidar com todas as novas exigências e despreparos, além da falta de empatia dos outros. Me preocupei muito com os outros também neste tempo, fui fiscal de vizinho, fiscal de irmão e outros familiares que furaram a quarentena desde o começo - felizmente, me libertei deste papel e adotei o modo "cada um por si". O problema é que o isolamento requer uma força mental intensa. O tempo todo você vê as pessoas tirando foto em praias, shoppings, viagens, festas e nada acontece. Não sei explicar muito bem o sentimento. Seria como se eu sempre estivesse me perguntando "esse povo tá saindo tanto assim e nada vai acontecer com eles?". É um eterno esperar algo acontecer, comigo ou com os outros.
Hoje eu queria mesmo ser essa moça sentada no café, contemplando a vista da janela, talvez observando o povo andando lá embaixo. Talvez lendo um livro, talvez escrevendo alguma coisa de vez em quando, sem hora marcada, sem máscara. Mas parece que esses momentos ficaram no passado pra mim. Ou num futuro com vacina. E sobre esta possibilidade eu me sinto bem. Só não me sinto bem em esperar algo acontecer. Acho que é este algo que me paralisa. E eu só queria seguir em frente.
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Primeiro de novembro é o início do NaNoWriMo - um mês onde pessoas do mundo todo se juntam para escrever seus romances, contos, histórias. Estou participando mais uma vez. Ano passado eu concluí as 50,000 palavras, mas estava escrevendo a minha dissertação, então foi "fácil". O problema é que escrever basicamente 1,500 palavras por dia é bem difícil e cansativo para quem está apenas escrevendo por lazer, pois o dia a dia continua acontecendo. Logo, vou adaptar o desafio para escrever todos os dias durante o mês todo, quantas palavras eu conseguir. Aqui está meu perfil no site deles, pra quem quiser ver e participar também.
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