Ficar sozinha
Essa semana meu consagrado - o nome que dou a meu noivo na internet - saiu todos os dias para trabalhar e tudo indica que a próxima semana será a mesma coisa. Fico sozinha com os cachorros. Mesmo todas as pessoas da minha família já tendo desistido do isolamento, eu não convido ninguém para minha casa, pois ainda sigo firme.
Não posso dizer firme e forte, pois tenho me sentido fraca de vez em quando. Ainda arrumo coragem para fazer faxina, escrever e cuidar do jardim. Pelo menos não estou cem por cento fraca, eu diria cinquenta por cento fraca apenas.
Ainda consigo enxergar a beleza das minhas plantas. Gosto de ficar olhando pela janela a planta florida gigante que tem no jardim. Não sei o nome dela, mas é linda e está sempre florida. Todos os dias olho atentamente as plantas que estão com botões para ver se alguma florzinha abriu. Apesar do calor de verão, é primavera e eu gosto de ver as cores surgindo.
Também noto o canto dos pássaros. Na outra casa, há apenas dois quilômetros daqui, eu não ouvia tantos pássaros, mas aqui consigo ouvir muitos, dos mais variados. Dois deles escolheram meu terraço para fazer seus ninhos. Um deles é um bem-te-vi que inclusive entra na minha casa, passa por uma janela e sai pela porta, só porque ele pode. O outro eu não sei identificar, é maior e mais escuro e está lá no alto do terraço. Tenho que sair da rede para ela poder alimentar os pequenos, parece mais tímida que o bem-te-vi.
Ficar sozinha é ver o tempo passar devagar. Tentar mudar uma coisa ou outra de lugar e esperar que o outro note quando chegar. Mas de vez em quando também acho que fui esquecida e é como se não existisse mais para os outros. Por isso, posto uma selfie ou outra nos stories e espero pelo menos um coraçãozinho de algumas pessoas. Ainda bem que umas cinco pessoas ainda me respondem.
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