Escrever sobre as coisas que estão acontecendo na minha vida tem me ajudado. Hoje me peguei dando menos importância a uma pessoa que deveria ter zero importância. Talvez isso venha refletir na minha saúde que está frágil, assim espero. Estou tentando melhorar.


Eu queria hoje pensar sobre como minha capacidade de refletir sobre as coisas e ter opinião própria foi sendo aos poucos tolhida durante os anos. Estudei em escola tradicional a vida toda e lá o aluno não tem muita voz, principalmente os mais quietos. Depois da sexta série, acho que os professores nem sabiam mais meu nome, que dirá saber minhas opiniões sobre as coisas que eles estavam ensinando. E só depois de adulta eu fui perceber como essa formação faz falta.

Dentro da família, não consigo lembrar das vezes em que me deram razão sobre alguma coisa. Ou, se deram, logo fizeram alguma ação contrária ao que eu tinha dito. Minha mãe, por exemplo, sempre me pedia - até hoje pede - minha opinião sobre as coisas. Antigamente, eu dizia o que realmente pensava. Hoje, vejo que não vale a pena, já que ela leva para o lado pessoal se eu discordo de algo. Assim, tudo o que eu falava era, e ainda é, de alguma forma, invalidado por alguém.

No trabalho, da mesma forma, não importa quantos mestrados e especializações eu faça, minha opinião só vale de alguma coisa quando vai servir para alguém se livrar de algo. "Ah, mas foi ela que disse isso!" e a pessoa se safa, e eu que me acabo. Atribuo isso parcialmente à minha "cara de novinha". Sim, eu aparento ser bem mais nova do que realmente sou, e, por isso, as pessoas automaticamente esquecem minha experiência e qualificação. Também sou mulher, né?!

Fico pensando nas minhas avós. Uma delas, as pessoas consideram "fácil de lidar" porque ela aceita muito a opinião dos outros, a ponto de tomar remédio caseiro e quase ter um treco porque a amiga fulana disse que era bom pra colesterol alto. A outra, mais braba, sempre foi considerada mais mandona, porém, quando jovem, precisou escolher entre a tão sonhada faculdade (e intercâmbio!) ou o marido. Escolheu o homem, mas tenho certeza, pelo modo como ela conta essa história, de que não foi escolha dela.

Também fui chamada bastante de histérica pela minha família. Vendo que não ia nunca ser dada a razão, já recorri a gritos, bater portas, ou sei lá mais o quê que os histéricos fazem. Hoje em dia, não faço mais isso. Pelo contrário, quando vejo que a pessoa não vai me escutar ou não tem futuro algum a discussão, eu me calo e sigo a minha vida. Não vale a pena insistir. E isso vai desde "eu acho que o caminho mais rápido é pela esquerda", até "seu filho cometeu um crime e você vai premia-lo com uma viagem à Europa?". E eu tinha razão nas duas situações. E ninguém me escutou.

Mas tudo volta para aquele princípio do livre-arbítrio: cada um é livre para fazer o que quiser. Independentemente do que eu diga, essas pessoas não vão aceitar minha opinião se não quiserem. E eu acho que não há esforço suficiente que eu faça que vá mudar isso. Ou talvez eu esteja abordando as coisas de forma errada, sendo pouco didática na minha argumentação. Mas esse problema vem da minha educação tradicional. Talvez eu tivesse desenvolvido melhor esta habilidade, se tivesse tido mais oportunidade de praticar. Hoje, me vejo sem chance alguma de convencer alguém de coisa nenhuma.

Acho que sou aquele cachorro menorzinho da ninhada: os outros vão sempre em cima dele e ele abaixa a cabeça e esperar pra comer a ração por último. Nestes dias estou bem como o cachorrinho. Sentada, fazendo minhas coisas, sem dizer muita coisa. Simplesmente perdi a vontade de tentar por enquanto.

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