O concurso
Se quiser fazer uma criança crescer saudável e feliz, não a coloque em nenhum tipo de concurso. Os pais têm mania de ver seus filhos serem os melhores em tudo, mas, para eles, não é assim que funciona. Os pequenos só querem brincar, aprender, descobrir o mundo imenso. O mundo, infelizmente, alimenta competição até entre as crianças e afloram - numa idade em que não deveriam existir - sentimentos de inveja e cobiça.
Ainda no Carnaval, os colégios gostam de promover concursos de dança, no caso, de frevo. As quatro crianças que dançarem melhor, ganham prêmios. E lá se vão todas elas se inscreverem no concurso, não para ganhar e ser o melhor, mas para receber uma das cestas grandes e misteriosas que estavam numa mesa guardada por uma professora. No meio das mais de 200 crianças, se encontravam Maíra e Raíssa. A primeira, fantasiada de havaiana azul, descalça. A segunda, fantasiada de baiana amarela, de tênis.
E começou o concurso. Várias eliminatórias passaram, com votos do público e dos professores e as duas meninas estavam lá, dançando os frevos, animadas, doidas para ganhar a cesta. Até que sobraram dez crianças. Dois meninos, oito meninas, com as mais variadas fantasias e de idades entre oito e dez anos. Maíra e Raíssa estavam lá, firmes e fortes, porém Maíra estava com os pés pretos e doloridos de tanto repetir tesouras e ponta-de-pé-calcanhar no chão de paralelepípedos.
A professora chamou os dez pelos números - sim, para aumentar a crueldade, não eram os nomes nas etiquetas - e colocou o frevo para tocar. Todos deram o melhor de si, muito empolgados e o público atento a cada detalhe. Três minutos de música devem ter sido suficientes para fazer a cabeça das pessoas e iniciar-se a votação. A professora encarregada apontava para a criança e pedia palmas. Se recebesse muitas palmas, dava um passo para a frente, poucas palmas, ficava no lugar. Nisso, sobraram seis e era a vez das professoras, coordenadoras e funcionários votarem. Não podia dar empate e todo mundo ficar feliz, pois só havia quatro cestas e, claro, ninguém ia querer dividir o prêmio. Depois da votação - ainda pelo número - quatro crianças foram escolhidas vencedoras - por sorte, sem ordem de primeiro a quarto lugar. Foram elas: Priscila, Paulo, Júlia e Maíra. Raíssa ficou de fora, junto com outra colega.
Os amiguinhos de Raíssa foram consolar a menina. Maíra foi mostrar às amigas os prêmios que havia na cesta. Uma triste, outra feliz.
Quatro anos passaram. As meninas, Maíra com 14, Raíssa com 12, se encontraram numa colônia de férias de um clube da cidade. Conviveram por vários dias até o assunto do concurso vir à tona. Maíra foi contar aos colegas que tinha ganho de Raíssa dançando frevo. Raíssa disse que era mentira e que também tinha ganho o concurso. Maíra não quis ser passada por mentirosa e discutiu com a outra. Raíssa não queria ser vista como perdedora e se defendeu até o fim. As outras crianças ao redor das duas não sabiam o que fazer. Só viram o clima esquentar e a briga ficar cada vez mais feia. Até o final da colônia de férias, as duas brigaram mais vezes, sem saber mais nem o porquê.
Anos mais tarde, as duas se encontraram novamente e Raíssa tentou colocar panos quentes. Porém, Maíra não esqueceu que a outra a havia feito passar por mentirosa na frente de todos os amigos. Se afastaram para sempre.
Fica um recado a pais, professores, babás e parentes. Não façam concursos entre suas crianças. Cada uma tem um talento especial que deve ser valorizado da maneira que merece. Todos os trabalhos, artes, danças, cálculos, são lindos, merecem todos os aplausos do mundo, pois eles se esforçaram para mostrar aquilo para vocês. Medis seus esforços por primeiro, segundo e terceiros lugares é valorizar demais o trabalhos de uns, e menosprezar o trabalho da maioria. Isso é cruel, isso não se faz e alimenta competição, inveja, brigas.
12/30
Ainda no Carnaval, os colégios gostam de promover concursos de dança, no caso, de frevo. As quatro crianças que dançarem melhor, ganham prêmios. E lá se vão todas elas se inscreverem no concurso, não para ganhar e ser o melhor, mas para receber uma das cestas grandes e misteriosas que estavam numa mesa guardada por uma professora. No meio das mais de 200 crianças, se encontravam Maíra e Raíssa. A primeira, fantasiada de havaiana azul, descalça. A segunda, fantasiada de baiana amarela, de tênis.
E começou o concurso. Várias eliminatórias passaram, com votos do público e dos professores e as duas meninas estavam lá, dançando os frevos, animadas, doidas para ganhar a cesta. Até que sobraram dez crianças. Dois meninos, oito meninas, com as mais variadas fantasias e de idades entre oito e dez anos. Maíra e Raíssa estavam lá, firmes e fortes, porém Maíra estava com os pés pretos e doloridos de tanto repetir tesouras e ponta-de-pé-calcanhar no chão de paralelepípedos.
A professora chamou os dez pelos números - sim, para aumentar a crueldade, não eram os nomes nas etiquetas - e colocou o frevo para tocar. Todos deram o melhor de si, muito empolgados e o público atento a cada detalhe. Três minutos de música devem ter sido suficientes para fazer a cabeça das pessoas e iniciar-se a votação. A professora encarregada apontava para a criança e pedia palmas. Se recebesse muitas palmas, dava um passo para a frente, poucas palmas, ficava no lugar. Nisso, sobraram seis e era a vez das professoras, coordenadoras e funcionários votarem. Não podia dar empate e todo mundo ficar feliz, pois só havia quatro cestas e, claro, ninguém ia querer dividir o prêmio. Depois da votação - ainda pelo número - quatro crianças foram escolhidas vencedoras - por sorte, sem ordem de primeiro a quarto lugar. Foram elas: Priscila, Paulo, Júlia e Maíra. Raíssa ficou de fora, junto com outra colega.
Os amiguinhos de Raíssa foram consolar a menina. Maíra foi mostrar às amigas os prêmios que havia na cesta. Uma triste, outra feliz.
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Quatro anos passaram. As meninas, Maíra com 14, Raíssa com 12, se encontraram numa colônia de férias de um clube da cidade. Conviveram por vários dias até o assunto do concurso vir à tona. Maíra foi contar aos colegas que tinha ganho de Raíssa dançando frevo. Raíssa disse que era mentira e que também tinha ganho o concurso. Maíra não quis ser passada por mentirosa e discutiu com a outra. Raíssa não queria ser vista como perdedora e se defendeu até o fim. As outras crianças ao redor das duas não sabiam o que fazer. Só viram o clima esquentar e a briga ficar cada vez mais feia. Até o final da colônia de férias, as duas brigaram mais vezes, sem saber mais nem o porquê.
Anos mais tarde, as duas se encontraram novamente e Raíssa tentou colocar panos quentes. Porém, Maíra não esqueceu que a outra a havia feito passar por mentirosa na frente de todos os amigos. Se afastaram para sempre.
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Fica um recado a pais, professores, babás e parentes. Não façam concursos entre suas crianças. Cada uma tem um talento especial que deve ser valorizado da maneira que merece. Todos os trabalhos, artes, danças, cálculos, são lindos, merecem todos os aplausos do mundo, pois eles se esforçaram para mostrar aquilo para vocês. Medis seus esforços por primeiro, segundo e terceiros lugares é valorizar demais o trabalhos de uns, e menosprezar o trabalho da maioria. Isso é cruel, isso não se faz e alimenta competição, inveja, brigas.
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2 Comentários
Você viu aquele novo programa que vai passar no Discovery Home & Health? De meninas que querem ser Miss-não-sei-o-que... parecem bonecas de plástico ou anãs. HAHAHA, tudo muito estranho.
ResponderExcluirE olha essas competições devem sair sangue!
E se quer saber, nunca fui bom em competições físicas. Só artísticas/textuais.
Beijo.
Esse é realmente um assunto muito complicado de tratar. Por fazer faculdade de Letras, eu vejo que, por trás de professores que sabem a gramática decorada, está um enorme suporte de disciplinas como 'Psicologia da Educação' e 'Prática de Projetos Pedagógicos'. Talvez, no fim, tudo seja uma questão de como fazer: ao mesmo tempo que pode despertar inveja e brigas, concurso escolares (e aí eu excluo absurdo, na minha opinião, como os concurso de Mini-Miss que o Luís citou acima) instingam o aluno a superar limites que ele imaginava ter e saber sim a lidar com perdas. Mas como eu disse: depende de como se faz. Em qualquer caso, é importante o amparo psicológico, de quem quer que seja.
ResponderExcluirDe qualquer forma, um alerta muito importante no seu post. Qualquer coisa, feita de forma errada, pode acabar em desastre.
Beijos.
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