A avó de Elizabeth, todas as vezes que voltava de uma viagem, trazia para ela um sapato novo. Ela viajava tanto, que Elizabeth já tinha uma coleção enorme de sapatos de todas as cores, formas e lugares. Além de guardar os sapatos, ela gostava de guardar as caixas, pois os fabricantes de sapatos gostam de caprichar na embalagem. O cheiro de sapato novo também ficava na caixa. Uma das manias da menina era abrir cada caixa e cheirá-las, de vez em quando.

Uma dia, Elizabeth foi numa loja de sapatos de sua cidade com a avó. De todas as lojas da pequena cidade, era a única na qual ela nunca tinha entrado. O vendedor deu a ela um sapato qualquer para que ela provasse. Ela achou estranho, pois nem havia escolhido o sapato ainda, mas experimentou mesmo assim. O sapato não ficou tão bonito em seu pé, mas o vendedor, um homem estranhamente gentil, decidiu que aquele era o sapato de Elizabeth, colocou o par numa caixa sem graça e deu a ela sem cobrar nada. A menina adorou ganhar mais um sapato de presente, desta vez de uma pessoa que não era sua avó.

Já em casa, Elizabeth pegou a caixa com os sapatos e foi para o seu quarto. Sentou-se na cama e abriu a caixa sem graça. Mas lá não havia nenhum sapato! Elizabeth deu um salto quando viu um pequeno índio montado num cavalo branco, correndo pela caixa. O homenzinho estava andando! Como podia acontecer uma coisa daquela? A menina estava impressionada.

Correu para o quintal, com cuidado para não derrubar a caixa e a colocou equilibrada num tronco de árvore para que pudesse olhar melhor o indiozinho. Agora, ele estava trabalhando com uns tocos de madeira e Elizabeth mal podia esperar para ver o que ele faria. Logo, o homenzinho tinha montado sua cabana e continuava a correr pela caixa montado no cavalo.

Os pais e a avó da menina não entendiam o que estava acontecendo. Elizabeth já estava há mais de cinco horas na frente da caixa de sapatos e eles viam apenas um par de sapatinhos marrons de garota dentro de uma caixa sem graça. O que tanto ela via ali?

Os dias passaram e Elizabeth não desgrudava da sua caixa e do seu amigo indiozinho. Os pais dela estavam muito preocupados e até já haviam chamado um médico para examiná-la. Como tudo estava normal com sua saúde, resolveram tomar medidas urgentes. Quando a menina dormiu, pegaram a caixa e levaram à loja do homem estranho. O vendedor disse que as crianças gostavam muito dos sapatos da sua loja e que era comum elas ficarem assim por algum tempo. Eles, então, pegaram a caixa de volta e foram para casa, insatisfeitos com a explicação. O que eles não entendiam é que, onde os adultos vêem um monte de entulhos, as crianças conseguem enxergar alegrias infinitas.

1 Comentários

  1. Adorei o texto muito bom! Queria ser criança e conseguir enxergar alegria em entulhos!

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